segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ser canadense

Com alguma frequência leio sobre brasileiros que estão em vias de adquirir a cidadania canadense ou que já a adquiriram, e que dividem conosco essa alegria e se dizem canadenses, agora. Fico feliz por todos e com a  realização de seus sonhos.
Porém, comecei a pensar:  o que é ser canadense? Com que direito poderemos nos autointitular canadenses?
Sem intenção de criticar ninguém, nem tenho esse direito e nem sei qual foi o custo, as perdas, a luta, o caminho que cada um percorreu. Só quero expor minha simples opinião, opinião de quem ainda não imigrou e não sentiu na pele a saudade profunda, o deixar tudo, a falta de tudo, o perder-se em si mesmo, sentir-se só no meio da muitos, não conseguir expressar-se com clareza, não conseguir mostrar seu potencial, porque seu idioma ainda não tem "aquele potencial", etc, etc, etc...
Não duvido que a cidadania é uma conquista e que não saiu de graça na vida de cada um que a consegue, mas será que ter a cidadania é tornar-se canadense ou quebequense??
As pessoas baseiam-se nos canadenses, nas suas atitudes mais nobres - aqui, estou colocando em termos genéricos, pois gente ruim, mal educada, psicopata, sem vergonha, sem educação, existe em todo lugar -, no fato de não jogarem lixo em suas ruas, no respeito com os mais velhos, na educação de seus filhos, nas coisas que fizeram do Canadá ou do Québec ( já que ele nem se sente tão canadense assim),  o que é, e que as atraíram para a imigração??? Mesmo com um idioma perfeito, com um bom emprego, uma família estável, filhos dedicados, pessoa exemplar, e tal, é muito difícil ser o outro, diria mesmo, impossível!
A cultura, a identidade de um povo, seu ponto de vista, seu paladar, suas  estações, o trato com a família, a consideração pelos outros, o trato do outro e de seus direitos, as flores que brotam em seus jardins, as árvores que crescem em suas ruas e até o cheiro de suas casas, sempre será diferente, e está muito além de um papel, ou mesmo do esforço incansável de tentar assemelhar-se, o que é justificável fazer quando se imigra por princípio, por admirar, por querer morar num país mais desenvolvido e menos desigual, que no fim, não é perfeito. 
Esse lugar, independentemente de qual seja,  nunca será nosso, e nunca seremos um deles, mas podemos demonstrar merecê-lo e que eles também nos merecem, e devem respeitar-nos e apaixonarem-se por nós, porque também temos nossa cultura e crenças, nosso sentimentalismo, nosso calor, nosso valor, os quais devem ser usados para somar aos deles, e melhorar o de todos, para todos.

4 comentários:

  1. Olá, Apoema.

    Acho que o foco deve ser outro. Não concebo a obtenção da cidadania como um dos recursos para uma "imitação" do que é ser canadense. Os desafios estão em manter seus valores pessoais dentro de outro contexto cultural. Não acho possível um imigrante perder suas referências culturais somente pelo fato de ter mudado de país. Pra mim, a identidade de cada um é aquilo que a acompanhará e definirá: não importa se estou em país x ou y, a questão é COMO me vejo dentro de tal cultura x ou y; se me sinto à margem dessa cultura ou se busco meios de compartilha-la...
    Alguma vez, alguém já tentou definir o que é ser brasileiro sem cair em valas comuns de estereótipos e chavões; a descrição de um gaúcho seria a mesma de um amazonense?
    Prefiro pensar que sou um cidadão do mundo, afinal, não é meu passaporte brasileiro (ou canadense, pra quem já obteve) que me define culturalmente ligado à determinada cultura.

    Abraços.

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    1. Marcos, concordo plenamente com vc!!! Não nos tornamos canadenses ou qualquer outra coisa que seja. Nós somos quem somos, mas nem por isso podemos deixar de observar e tentar multiplicar os bons exemplos que vivenciamos onde quer que estejamos, isso é algo para nosso próprio desenvolvimento pessoal e humano. O que eu quis realmente dizer é que um papel não faz mágica, a mágica quem faz somos nós mesmos! E que num país que nos recebe, sob qualquer que for a circunstância, devemos honrar essa recepção, mesmo quando ela não é tão receptiva assim, como acontece muito com os imigrantes ilegais ou em países fronteiriços com locais em conflito. Abração!!!

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  2. Olá!

    Obrigado pela força que nos tem dado sempre em nosso blog!

    Querendo ou não, todos temos momentos ruins e difíceis nesse processo. A motivação para conquista é forte, mas há sempre um caminho tortuoso a seguir.

    Continuarei lutando, pois desistir não será uma opção. :)

    Sucesso para nós todos!

    Abraços.

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  3. Salut!
    concordo com você, impossível nos tornarmos "outro".
    A mudança é apenas de país, mas a nossa identidade continua a mesma, que foi criada desde a infância.
    Já li em algum lugar que mesmo morando em outro país, dominando o idioma, sempre a lingua materna prevalece em momentos de puro amor (mães falando com seus bebês) e ódio (quando dá aquela vontade de xingar)...
    Pode-se conseguir a cidadania, mas virar canadense, impossível!

    À Bientôt!

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