Com alguma frequência leio sobre brasileiros que estão em vias de adquirir a cidadania canadense ou que já a adquiriram, e que dividem conosco essa alegria e se dizem canadenses, agora. Fico feliz por todos e com a realização de seus sonhos.
Porém, comecei a pensar: o que é ser canadense? Com que direito poderemos nos autointitular canadenses?
Sem intenção de criticar ninguém, nem tenho esse direito e nem sei qual foi o custo, as perdas, a luta, o caminho que cada um percorreu. Só quero expor minha simples opinião, opinião de quem ainda não imigrou e não sentiu na pele a saudade profunda, o deixar tudo, a falta de tudo, o perder-se em si mesmo, sentir-se só no meio da muitos, não conseguir expressar-se com clareza, não conseguir mostrar seu potencial, porque seu idioma ainda não tem "aquele potencial", etc, etc, etc...
Não duvido que a cidadania é uma conquista e que não saiu de graça na vida de cada um que a consegue, mas será que ter a cidadania é tornar-se canadense ou quebequense??
As pessoas baseiam-se nos canadenses, nas suas atitudes mais nobres - aqui, estou colocando em termos genéricos, pois gente ruim, mal educada, psicopata, sem vergonha, sem educação, existe em todo lugar -, no fato de não jogarem lixo em suas ruas, no respeito com os mais velhos, na educação de seus filhos, nas coisas que fizeram do Canadá ou do Québec ( já que ele nem se sente tão canadense assim), o que é, e que as atraíram para a imigração??? Mesmo com um idioma perfeito, com um bom emprego, uma família estável, filhos dedicados, pessoa exemplar, e tal, é muito difícil ser o outro, diria mesmo, impossível!
A cultura, a identidade de um povo, seu ponto de vista, seu paladar, suas estações, o trato com a família, a consideração pelos outros, o trato do outro e de seus direitos, as flores que brotam em seus jardins, as árvores que crescem em suas ruas e até o cheiro de suas casas, sempre será diferente, e está muito além de um papel, ou mesmo do esforço incansável de tentar assemelhar-se, o que é justificável fazer quando se imigra por princípio, por admirar, por querer morar num país mais desenvolvido e menos desigual, que no fim, não é perfeito.
Esse lugar, independentemente de qual seja, nunca será nosso, e nunca seremos um deles, mas podemos demonstrar merecê-lo e que eles também nos merecem, e devem respeitar-nos e apaixonarem-se por nós, porque também temos nossa cultura e crenças, nosso sentimentalismo, nosso calor, nosso valor, os quais devem ser usados para somar aos deles, e melhorar o de todos, para todos.